Lista sugere repasses a políticos de MT investigados na operação Ararath. Documento foi achado na casa do ex-secretário de Fazenda Éder Moraes.
Eder seria o operador do esquema investigado
pela PF. (Foto: Lenine Martins / Secom-MT)
pela PF. (Foto: Lenine Martins / Secom-MT)
Uma planilha apreendida pela Polícia Federal (PF) na residência do
ex-secretário de Fazenda de Mato Grosso Éder Moraes (PMDB), e constante
do inquérito que tramita na Justiça Federal, sugere que o esquema
investigado teve o envolvimento de outros dois deputados estaduais, um
suplente, um ex-deputado e um prefeito, além de apontar para a suposta
ligação do senador Blairo Maggi (PR) e
do ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Alencar Soares,
com os indícios de crimes financeiros. O documento foi apreendido pela Polícia Federal durante uma das fases da operação Ararath. Todos os citados com os quais a reportagem do G1 conseguiu contato negaram qualquer relação com os esquemas investigados na operação Ararath. Na planilha apreendida são mencionados um apelido e iniciais que a
Polícia Federal interpretou como os nomes dos deputados estaduais Adalto
de Freitas (SDD) e Guilherme Maluf (PSDB), além do suplente de deputado
Gilmar Fabris (PSD), o ex-deputado Dilceu Dal Bosco e o atual prefeito
de Rondonópolis, cidade a 218 km de Cuiabá,
Percival Muniz (PPS). Também são mencionados, segundo a PF, o senador
Blairo Maggi e o ex-conselheiro Alencar Soares, além de duas empresas de
engenharia. Antes de ser preso na última terça-feira (20), Éder Moraes foi alvo de
mandado de busca e apreensão em fase anterior da operação Ararath por
ser suspeito de operar um esquema de empréstimos ilegais e crimes como
lavagem de dinheiro, que movimentou cerca de R$ 500 milhões, e teria
atendido à cúpula política do estado pelo menos desde 2008. O
ex-secretário se encontra preso no Complexo da Papuda, em Brasília.
Anotações
No documento, a PF interpretou que se refere a Maggi a sigla “BM”, a qual é anotada com uma seta ligada à inscrição “12 MM”. Guilherme Maluf seria mencionado apenas como "G. Maluf", escrito ao lado direito do numeral “1,587”. O prefeito de Rondonópolis seria a inscrição “2.00 M P. Muniz” enquanto o ex-parlamentar Dilceu Dal Bosco, para a PF, seria representado pela anotação “1,6 MM Dilceul” (sic).
Completando a lista, estariam duas menções a “Daltinho”, apelido do deputado Adalto de Freitas. O apelido aparece duas vezes. Na primeira, ao lado da inscrição “900 mil” e, na segunda, ao lado da inscrição “600 mil”. Já o suplente Fabris é mencionado pelo sobrenome ao lado do numeral “2 MM” e o ex-conselheiro do TCE apenas como “Alencar 1.5”.
Todos os nomes aparecem abaixo de um número, “49 MM”, em uma folha de papel que também faz referência a órgãos como o Ministério Público (“MP”), o TCE, à Rede Cemat (anterior concessionária de energia do estado), à própria PF e à Receita Federal.
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A Polícia, ainda em investigação, registrou que ainda não tem
conhecimento pleno do que se tratam as anotações de Éder, mas apontou
que elas “chamam a atenção por se referirem a órgãos públicos e pessoas
ligadas ao meio político”.
“Seu significado integral é ainda obscuro e merece ser esclarecido”,
diz trecho do inquérito, que acrescenta, no entanto, ser possível
vislumbrar que as anotações se referem às transações do “sistema” de
crimes financeiros do qual Éder Moraes seria o principal operador. O
objetivo, entre outros, seria “possível compra de apoio político,
financiamento de campanha eleitoral, pagamentos de outros empréstimos
tomados no 'mercado financeiro paralelo estabelecido no estado'”.
"Os indícios, conforme demonstrado a partir da farta documentação
apreendida na residência de Éder Moraes, apontam para a extensão do
crime de gestão fraudulenta a um grande número de empréstimos", diz o
inquérito.
Eder e o deputado José Riva foram presos durante
a operação. (Foto: Reprodução / TVCA)
Outro ladoa operação. (Foto: Reprodução / TVCA)
Os políticos que o G1 conseguiu contatar e cujos nomes teriam sido citados nas anotações negaram qualquer relação com os crimes investigados.
Por meio de nota, o senador Blairo Maggi enfatizou que, em seu mandato, jamais solicitou que qualquer servidor agisse de modo a ferir os princípios da administração pública. “Espero a apuração rigorosa de todos os fatos, com a punição cabível aos que, de fato, estão envolvidos nos crimes contra o patrimônio público”, declarou o ex-governador.
Já o ex-deputado Dilceu Dal Bosco, atualmente em tratamento médico em São Paulo, declarou por meio de sua advogada que não recebeu qualquer notificação referente às investigações, que desconhece o conteúdo delas e que aguarda mais informações a respeito.
Na mesma linha se manifestou o deputado Guilherme Maluf, dizendo desconhecer sua menção nas anotações de Éder e o número escrito ao lado. Ele também declarou não ter relação com o ex-secretário de Fazenda.
O prefeito de Rondonópolis, Percival Muniz, afirmou que jamais foi notificado por conta da investigação, não sabe por que seu nome figurou nas anotações apreendidas, não recebeu qualquer valor e disse que, caso seja convocado para prestar esclarecimentos, responderá com tranquilidade.
O suplente de deputado Gilmar Fabris negou ter recebido qualquer quantia em dinheiro relacionada ao suposto esquema e disse nem saber o motivo de seu nome constar das anotações de Éder.
O deputado Adalto de Freitas, além de lamentar o “vexame” pelo qual o estado estaria passando, também explicou que todas suas operações empresariais são feitas em agências oficiais e que seus empréstimos não têm ligação com sua vida política. A reportagem não conseguiu contato com o ex-conselheiro do TCE Alencar Soares.
http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2014/05/planilha-apreendida-pela-pf-na-operacao-ararath-cita-politicos-de-mt.html
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