Em março a Polícia Federal revelou que as
investigações brasileiras começaram em fevereiro de 2013, a pedido da Itália
Agência Brasil Brasília -
Investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF)
expuseram as relações de uma das mais poderosas organizações criminosas do
mundo, a 'Ndrangheta [Andrângueta], com grupos criminosos locais. Entre
especialistas em segurança, a presença de pessoas ligadas à máfia italiana em
território brasileiro já é discutida há anos, mas as menções à organização
criada na Calábria ganharam as páginas policiais depois que a PF deflagrou, em
março deste ano, a Operação Monte Pollino, que desarticulou um esquema de envio
de cocaína sul-americana para a Europa. Na última quarta-feira, o Ministério
Público Federal (MPF) denunciou seis pessoas investigadas por supostamente
integrarem uma quadrilha que usava o Porto de Santos, o maior da América
Latina, para enviar toneladas da droga para a Europa. Convencidos de que todos
os investigados na Operação Monte Pollino “integram uma ampla rede criminosa,
com ramificações em diversos países e ligações com a máfia italiana
'Ndrangheta”, procuradores da República em Santos já anunciaram que vão denunciar
pelo menos outras 14 pessoas. Segundo o instituto italiano Demoskopika, a máfia
calabresa, também conhecida como Família Montalbano, movimentou cerca de 53
milhões de euros em 2013. O instituto garante ter chegado a essa cifra a partir
dos dados de documentos oficiais a que teve acesso. O montante é quase o mesmo
que a rede de lanchonetes McDonald's e do Deutsche Bank movimentaram, juntos,
no ano passado. A maior fonte de renda da organização calabresa seria o tráfico
de drogas, com o qual obteve 24,2 bilhões de euros. Os tentáculos da
'Ndrangheta, contudo, se estendem para a reciclagem ilegal, extorsão, desvio de
recursos públicos, jogos de azar, venda de armas, prostituição, falsificação de
documentos e imigração clandestina. Ainda de acordo com o instituto, a
'Ndrangheta conta com cerca de 60 mil associados que atuam em pelo menos 30
países. De acordo com a crônica especializada, há tempos a 'Ndrangheta
sobrepujou em poder econômico e capilaridade as mais conhecidas Cosa Nostra e a
Camorra. Ao deflagrar a Operação Monte Pollino, em março, o delegado federal
Osvaldo Scalezi Júnior revelou que as investigações brasileiras começaram em
fevereiro de 2013, a pedido da Itália, que já apurava o envio de cocaína do
Peru e da Bolívia para a Europa desde 2010. No mesmo dia em que, no Brasil,
cerca de 70 policiais federais saiam às ruas para cumprir os mandados de prisão
e de busca e apreensão, na Itália a Guarda de Finança deflagrou a Operação
Bongustaio. Em um grande esquema de cooperação internacional, também foram
cumpridos mandados na Espanha, em Portugal, no Reino Unido, na Holanda, na
Sérvia, em Montenegro e no Peru. No total, foram detidas 12 pessoas, sendo dez
no Brasil, uma na Itália e uma na Espanha. Além disso, outras seis pessoas já
tinham sido presas antes no Brasil. Ao longo de um ano de investigação, foram
apreendidos mais de 1,3 tonelada da droga negociada pelo grupo. Os principais
destinos da cocaína apreendida eram os portos de Gioia Tauro, em Nápoles, na
Itália, e de Porto de Leixões, em Portugal, onde, em outubro de 2012, foram
apreendidos 330 quilos de cocaína. Grandes quantidades do entorpecente também
foram apreendidas ao longo das investigações em portos da Espanha, Alemanha e
da Bélgica. Segundo estimativas da polícia italiana, só o valor do volume
apreendido pode chegar a 10 milhões de euros. A cocaína era trazida ao Brasil
por terra e armazenada principalmente na região de Campinas, no interior
paulista. Em Santos, era embarcada em navios de carga com a colaboração de ao
menos dois funcionários terceirizados corrompidos pelos suspeitos de fazer a
cocaína chegar a Europa. O destinatário do produto era a 'Ndrangheta. Depois
que a droga chegava aos portos europeus e era recolhida, representantes do
braço financeiro da máfia calabresa que vinham frequentemente ou moravam no
Brasil se encarregavam de pagar os integrantes dos grupos criminosos, sobretudo
brasileiros, que adquiriam a cocaína pura, transportavam até os portos
brasileiros e a acondicionavam nos contêineres. O dinheiro costumava ser
entregue em lugares movimentados, como praças de alimentação de shoppings e
hipermercados da capital paulista. Entre as pessoas presas em março está uma
brasileira detida na Espanha. Segundo Scalezi, era ela a principal responsável
por enviar ao Brasil os dólares com que a 'Ndrangheta pagava os intermediários
do esquema. “A brasileira presa na Espanha é a principal responsável pelo braço
financeiro da organização calabresa”, disse Scalezi em março. De acordo com o
delegado federal, a brasileira foi identificada e detida graças a troca de
informações entre Brasil e Itália e a cooperação internacional. Ainda segundo
Scalezi, após o início das diligências e das primeiras apreensões, os
criminosos passaram a operar em outros portos brasileiros. Na última quinta-feira,
ao ser questionado sobre o que o governo brasileiro vem fazendo para coibir a
atuação de organizações criminosas internacionais em geral e da 'Ndrangheta em
particular, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse não poder
comentar o assunto. “A PF tem um trabalho intenso de cooperação e troca de
informações com policias do mundo inteiro. Há muitas linhas de investigação em
curso, mas eu jamais poderia dizer o que está ou não está sendo investigado.
Primeiro porque é sigiloso. Segundo porque seria um erro colossal, pois nunca
se diz o que está investigando".
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