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O exame de urina é usado como método diagnóstico complementar desde o
século II. Trata-se de um exame indolor e de simples coleta, o que o
torna muito menos penoso para os pacientes do que as análises de sangue,
que só podem ser colhidas através de agulhas.
O exame sumário da urina pode nos fornecer pistas importantes sobre doenças sistêmicas, principalmente as doenças dos rins.
As três análises de urina mais comuns são:
- EAS (elementos anormais do sedimento) ou urina tipo I.
- Urina de 24 horas.
- Urinocultura (urocultura).
Neste texto falaremos apenas do exame simples de urina (EAS ou urina
tipo I). As informações contidas aqui têm como objetivo ajudar na
compreensão dos resultados das análises de urina. De modo algum o
paciente deve usar este texto para interpretar exames sem a orientação
de um médico. A presença de leucócitos na urina, um pH alterado, a
descrição de células epiteliais, a existência de muco ou qualquer outro
achado no EAS deve ser sempre correlacionado com a história clínica, os
sintomas e o exame físico do paciente.
EAS | urina tipo I
O EAS é o exame de urina mais simples, feito através da coleta de
40-50 ml de urina em um pequeno pote de plástico. Normalmente
solicitamos que se use a primeira urina da manhã, desprezando o primeiro
jato. Esta pequena quantidade de urina desprezada serve para eliminar
as impurezas que possam estar na uretra (canal urinário que traz a urina
da bexiga). Após a eliminação do primeiro jato, enche-se o recipiente
com o resto da urina.
A primeira urina da manhã é a mais usada, mas não é obrigatório. A urina pode ser coletada em qualquer período do dia.
A amostra de urina deve ser colhida idealmente no próprio
laboratório, pois quanto mais fresca estiver, mais confiáveis são os
seus resultados. Um intervalo de mais de duas horas entre a coleta e a
avaliação pode invalidar o resultado, principalmente se a urina não
tiver sido mantida sob refrigeração.
O EAS é divido em duas partes. A primeira é feita através de reações
químicas e a segunda por visualização de gotas da urina pelo
microscópio.
Na primeira parte mergulha-se uma fita na urina, chamada de
dipstick, como as que estão nas fotos ao lado. Cada fita possuiu vários
quadradinhos coloridos compostos por substâncias químicas que reagem com
determinados elementos da urina. Esta parte é tão simples que pode ser
feita no próprio consultório médico. Após 1 minuto, compara-se a cores
dos quadradinhos com uma tabela de referência que costuma vir na
embalagem das próprias fitas do EAS.
Através destas reações e com o complemento do exame microscópico,
podemos detectar a presença e a quantidade dos seguintes dados da urina:
- Densidade.
- pH.
- Glicose.
- Proteínas.
- Hemácias (sangue).
- Leucócitos.
- Cetonas.
- Urobilinogênio e bilirrubina.
- Nitrito.
- Cristais.
- Células epiteliais e cilindros.
Os resultados do dipstick são qualitativos e não quantitativos, isto
é, a fita identifica a presença dessas substâncias citadas acima, mas a
quantificação é apenas aproximada. O resultado é normalmente fornecido
em uma graduação de cruzes de 1 a 4. Por exemplo: uma urina com
“proteínas 4+” apresenta grande quantidade de proteínas; uma urina com
“proteínas 1+” apresenta pequena quantidade de proteínas. Quando a
concentração é muito pequena, alguns laboratórios fornecem o resultado
como “traços de proteínas”.
Vamos, então, aos valores de referência do EAS:
Densidade:
A densidade da água pura é igual a 1000. Quanto mais próximo deste
valor, mais diluída está a urina. Os valores normais variam de 1005 a
1035. Urinas com densidade próximas de 1005 estão bem diluídas; próximas
de 1035 estão muito concentradas, indicando desidratação. Urinas com
densidade próxima de 1035 costumam ser muito amareladas e normalmente
possuem odor forte (leia:
URINA COM CHEIRO FORTE E MAL CHEIROSA).
A densidade indica a concentração das substâncias sólidas diluídas na
urina, sais minerais na sua maioria. Quanto menos água houver na urina,
maior será sua densidade.
pH:
A urina é naturalmente ácida, já que o rim é o principal meio de
eliminação dos ácidos do organismo. Enquanto o pH do sangue costuma
estar em torno de 7,4, o pH da urina varia entre 5,5 e 7,0, ou seja, bem
mais ácida.
Valores de pH maiores ou igual 7 podem indicar a presença de
bactérias que alcalinizam a urina. Outros fatores que podem deixar a
urina mais alcalina são uma dieta pobre em proteína animal, dieta rica
em frutas cítricas ou derivados de leite, e uso de medicamentos como
acetazolamida, citrato de potássio ou bicarbonato de sódio. Ter tido
vômitos horas antes do exame também pode ser uma causa de urina mais
alcalina. Em casos mais raros, algumas doenças dos túbulos renais também
podem deixar a urina com pH acima de 7,0.
Valores menores que 5,5 podem indicar acidose no sangue ou doença nos
túbulos renais. Uma dieta com elevada carga de proteína animal também
pode causar uma urina mais ácida. Outras situações que aumentam a acidez
da urina incluem episódios de diarreia ou uso de diurético como
hidroclorotiazida ou clortalidona.
O valor mais comum é um pH por volta de 5,5-6,5, porém, mesmo valores
acima ou abaixo dos descritos podem não necessariamente indicar alguma
doença. Este resultado deve ser interpretado pelo seu médico.
Glicose:
Toda a glicose que é filtrada nos rins é reabsorvida de volta para o
sangue pelo túbulos renais. Deste modo, o normal é não apresentar
evidências de glicose na urina.
A presença de glicose na urina é um forte indício de que os níveis
sanguíneos estão altos. É muito comum pessoas com diabetes mellitus
apresentarem perda de glicose pela urina. Isto ocorre porque a
quantidade de açúcar no sangue está tão alta, que parte deste acaba
saindo pela urina. Quando os níveis de glicose no sangue estão acima de
180 mg/dl, geralmente há perda na urina (leia:
DIAGNÓSTICO E SINTOMAS DO DIABETES MELLITUS ).
A presença de glicose na urina sem que o indivíduo tenha diabetes
costuma ser um sinal de doença nos túbulos renais. Isso significa que
apesar de não haver excesso de glicose na urina, os rins não conseguem
impedir sua perda.
Basicamente, a presença de glicose na urina indica excesso de glicose no sangue ou doença dos rins.
Proteínas:
A maioria das proteínas não são filtradas pelo rim, por isso, em
situações normais, não devem estar presentes na urina. Na verdade,
existe apenas uma pequena quantidade de proteínas na urina, mas são tão
poucas que não costumam ser detectadas pelo teste da fita. Portanto, uma
urina normal não possui proteínas.
Quantidades pequenas de proteínas na urina podem ser causadas por
dezenas de situações, que vão desde situações benignas e triviais, como
presença de febre, exercício físico horas antes da coleta de urina,
desidratação ou estresse emocional, até causas mais graves, como
infecção urinária, lúpus, doenças do glomérulo renal e lesão renal pelo
diabetes.
Grandes quantidade de proteínas na urina quase sempre indicam a
presença de uma doença, sendo a lesão renal pelo diabetes e as doenças
glomerulares as causas mais comuns (leia:
O QUE É UMA GLOMERULONEFRITE?).
Existem duas maneiras de se apresentar o resultado das proteínas na urina: em cruzes ou uma estimativa em mg/dL:
Ausência = menos que 10 mg/dL (valor normal)
Traços = entre 10 e 30 mg/dL
1+ = 30 mg/dl
2+ = 40 a 100 mg/dL
3+ = 150 a 350 mg/dL
4+ = Maior que 500 mg/dL
A presença de proteínas na urina se chama proteinúria, pode indicar doença renal e deve ser sempre investigada (leia:
PROTEINÚRIA, URINA ESPUMOSA E SÍNDROME NEFRÓTICA).
O exame da urina de 24h é normalmente feito para se quantificar com
exatidão a quantidade de proteínas que se está perdendo na urina (leia:
URINA 24 HORAS | Como colher e para que serve).
Hemácias na urina / hemoglobina na urina / sangue na urina:
Assim como nas proteínas, a quantidade de hemácias (glóbulos
vermelhos) na urina é desprezível e não consegue ser detectada pelo
exame da fita. Mais uma vez, os resultados costumam ser fornecidos em
cruzes. O normal é haver ausência de hemácias (hemoglobina).
Como as hemácias são células, elas podem ser vistas com um
microscópio. Deste modo, além do teste da fita, também podemos procurar
por hemácias diretamente pelo exame microscópico, uma técnica chamada de
sedimentoscopia. Através do microscópio consegue-se detectar qualquer
presença de sangue, mesmo quantidades mínimas não detectadas pela fita.
Neste caso, os valores normais são descritos de duas maneiras:
- Menos que
3 a 5 hemácias por campo ou menos que
10.000 células por mL
A presença de sangue na urina chama-se hematúria e pode ocorrer por
diversas doenças, tais como infecções, pedras nos rins e doenças renais
graves (para saber mais detalhes sobre a hematúria, leia:
HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE)).
Um resultado falso positivo pode acontecer nas mulheres que colhem
urina enquanto estão na período menstrual. Neste caso, o sangue
detectado não vem da urina, mas sim do sangue ainda residual presente na
vagina. Nos homens, a presença de sêmen na urina também pode provocar
falso positivo.
Uma vez detectada a hematúria, o próximo passo é avaliar a forma das
hemácias em um exame chamado “pesquisa de dismorfismo eritrocitário”. As
hemácias dismórficas são hemácias com morfologia alterada, comum em
algumas doenças como a glomerulonefrite (leia:
O QUE É UMA GLOMERULONEFRITE?).
É possível haver pequenas quantidades de hemácias dismórficas na urina
sem que isso tenha relevância clínica. Apenas valores acima de 40 a 50%
costumam ser considerados relevantes.
Não é todo laboratório que possui gente capacitada para executar esse
exame. Por isso, muitas vezes ele não é feito automaticamente. É
preciso o médico solicitar especificamente essa avaliação.
Leucócitos ou piócitos – Esterase leucocitária
Os leucócitos, também chamados de piócitos, são os glóbulos brancos, nossas células de defesa. A presença de
leucócitos na urina
costuma indicar que há alguma inflamação nas vias urinárias. Em geral,
sugere infecção urinária, mas pode estar presente em várias outras
situações, como traumas, uso de substâncias irritantes ou qualquer outra
inflamação não causada por um agente infeccioso. Podemos simplificar e
dizer que leucócitos na urina significa pus na urina.
Como também são células, os leucócitos podem ser contados na sedimentoscopia. Valores normais estão abaixo dos
10.000 células por mL ou
5 células por campo
Alguns dipsticks apresentam um quadradinho para detecção de
leucócitos, normalmente o resultado vem descrito como “esterase
leucocitária”. O normal é estar negativo.
Cetonas ou corpos cetônicos:
Os corpos cetônicos são produtos da metabolização das gorduras. Os
corpos cetônicos são produzidos quando o corpo está com dificuldade em
utilizar a glicose como fonte de energia. As causas mais comuns são o
diabetes, o jejum prolongado e dietas rigorosas. Outras situações menos
comuns incluem febre, doença aguda, hipertireoidismo, gravidez e até
aleitamento materno.
Normalmente a produção de cetonas é muito baixa e estas não estão presentes na urina.
Alguns medicamentos como captopril, ácido valproico, vitamina C (ácido ascórbico) e levodopa podem causar falso positivos.
Urobilinogênio e bilirrubina
Também normalmente ausentes na urina, podem indicar doença hepática
(fígado) ou hemólise (destruição anormal das hemácias). A bilirrubina só
costuma aparecer na urina quando os seus níveis sanguíneos ultrapassam
1,5 mg/dL. O urobilinogênio pode estar presente em pequenas quantidades
sem que isso tenha relevância clínica.
Nitritos
A urina é rica em nitratos. A presença de bactérias na urina
transforma esses nitratos em nitritos. Portanto, fita com nitrito
positivo é um sinal indireto da presença de bactérias. Nem todas as
bactérias têm a capacidade de metabolizar o nitrato, por isso, exame de
urina com nitrito negativo de forma alguma descarta infecção urinária.
Na verdade, o EAS apenas sugere infecção. A presença de hemácias,
associado a leucócitos e nitritos positivos, fala muito a favor de
infecção urinária, porém, o exame de certeza é a urocultura (leia:
EXAME UROCULTURA | Indicações e como colher).
A pesquisa do nitrito é feita através da reação de Griess, que é o
nome dado a reação do nitrito com um meio ácido. Por isso, alguns
laboratórios fornecem o resultado como Griess positivo ou Griess
negativo, que é igual a nitrito positivo ou nitrito negativo,
respectivamente.
Cristais
Esse é talvez o resultado mais mal interpretado, tanto por pacientes
como por alguns médicos. A presença de cristais na urina, principalmente
de oxalato de cálcio, fosfato de cálcio ou uratos amorfos, não tem
nenhuma importância clínica. Ao contrário do que se possa imaginar, a
presença de cristais não indica uma maior propensão à formação de
cálculos renais. Dito isso, é importante destacar que, em alguns casos, a
presença de determinados cristais pode ser um sinal para alguma doença.
Os cristais com relevância clínica são:
- Cristais de cistina – Indicam uma doença chamada cistinúria.
- Cristais de magnésio-amônio-fosfato (chamado de cristais de
estruvita ou cristais de fosfato triplo) – podem ser normais, mas também
podem estar presentes em casos de urina muito alcalina provocada por
infecção urinária pelas bactérias Proteus ou Klebsiella. Pacientes com cálculo renal por pedras de estruvita costumam ter esses cristais na urina.
- Cristais de tirosina – Presentes em uma doença chamada tirosinemia.
- Cristais de bilirrubina – Costumam indicar doença do fígado.
- Cristais de colesterol – Costuma ser um sinal de perdas maciças de proteína na urina.
A presença de cristais de ácido úrico, caso em grande quantidade,
também deve ser valorizada, pois podem surgir em pacientes com gota ou
neoplasias, como linfoma ou leucemia. Cristais de ácido úrico em pequena
quantidade, porém, são comuns e não indicam nenhum problema.
Células epiteliais e cilindros
A presença de células epiteliais na urina é normal. São as próprias
células do trato urinário que descamam. Elas só têm valor quando se
agrupam em forma de cilindro, recebendo o nome de cilindros epiteliais.
Como os túbulos renais são cilíndricos, toda vez que temos alguma
substância (proteínas, células, sangue…) em grande quantidade na urina,
elas se agrupam em forma de um cilindro. A presença de cilindros indica
que esta substância veio dos túbulos renais e não de outros pontos do
trato urinário como a bexiga, ureter, próstata, etc. Isto é muito
relevante, por exemplo, nos casos de sangramento, onde um cilindro
hemático indica o glomérulo como origem, e não a bexiga, por exemplo.
Os cilindros que podem indicar algum problema são:
- Cilindros hemáticos (sangue) = Indicam glomerulonefrite.
- Cilindros leucocitários = Indicam inflamação dos rins.
- Cilindros epiteliais = indicam lesão dos túbulos.
- Cilindros gordurosos = indicam proteinúria.
Cilindros hialinos não indicam doença, mas podem ser um sinal de desidratação.
A presença de
muco na urina é inespecífica e
normalmente ocorre pelo acúmulo de células epiteliais com cristais e
leucócitos. Tem pouquíssima utilidade clínica. É mais uma obervação.
Em relação ao EAS (urina tipo I) é importante salientar que esta é
uma análise que deve ser sempre interpretada. Os falsos positivos e
negativos são muito comuns e não dá para se fechar qualquer diagnóstico
apenas comparando os resultados com os valores de referência.
Ácido ascórbico na urina
É comum os laboratórios chamarem a atenção quando há ácido ascórbico
(vitamina C) na urina. Este dado é importante porque o ácido ascórbico
pode alterar os resultados do dipstick, principalmente na detecção de
hemoglobina, glicose, nitritos, bilirrubina e cetonas. É importante o
médico saber que resultados inesperados podem ser falsos positivos ou
falsos negativos causados pela vitamina C.
EAS (urina tipo I) normal
Apenas como exemplo, o que segue abaixo é um modelo de como os
laboratórios apresentam os resultados do exame sumário de urina. Este
exame está normal.
COR —- amarelo citrino
ASPECTO —- limpido
DENSIDADE —- 1.015 (normal varia entre 1005 e 1030)
PH —- 5,0 (normal varia entre 5,5 a 7.5)
EXAME QUÍMICO
Glicose —- ausente
Proteínas —- ausente
Cetona —- ausente
Bilirrubina —- ausente
Urobilinogênio —- ausente
Leucócitos —- ausente
Hemoglobina —- ausente
Nitrito —- negativo
MICROSCOPIA DO SEDIMENTO (sedimentoscopia)
Células epiteliais —- algumas
Leucócitos —- 5 por campo
Hemácias —- 3 por campo
Muco —- ausente
Bactérias —- ausentes
Cristais —- ausentes
Cilindros —- ausentes
Se você está preocupado(a) com a saúde dos sues rins, não deixe de
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MD.Saúde, que explica de forma simples a insuficiência renal e o exame
da creatinina:
Vérsion en español: ANÁLISIS DE ORINA | Examen de orina
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